2 primeiras paginas de
Glamorama
33 – manchas – manchas por todo o lado o terceiro painel, estas a ver? – não aquela – a segunda a contar de baixo, e queria fazer queixa disso ontem mas apareceu um fotografo, e Yaki Nakamari ou lá que raio é o nome do designer – mestre do seu oficio é que ele não é – confundiu-me com outra pessoa e não consegui fazer a queixa, mas meus senhores – e senhoras – ali estão elas: manchas, manchinhas chatas, e não parecem ter surgido por acaso, mas sim como se tivessem sido feitas por uma maquina – por isso não quero muitas explanações. Mas apenas a historia, directa, sem floreado, a verdade nua e crua: quem, o quê, onde, quando e sem esquecer o porquê, embora tenha a impressão nítida pelas vossas caras infelizes que o porquê nao irá obter resposta – vá lá, c’os diabos, como é?
Ninguém aqui tem de esperar muito até que se diga alguma coisa.
- meu rico, foi o George Nakashima que desenhou esta zona do bar – corrige-me JD tranquilamente. – Não, espera, Yaki Nakamashi, alias, Yuki Nakamorti, não oh, merda, Peyton , ajuda-me.
- Yoki Nakamuri foi aprovado para este piso – afirmou Peyton.
- ai sim? – pergunto – aprovado por quem? – aprovado por, enfim moi – diz Peyton.
Silencio. Os olhares recaem sobre Peyton e JD.
- Que é esse Moi? – pergunto. – não faço a menor ideia de quem é esse Moi, filho.
- Por favor. Victor – diz Peyton. – de certeza que o Damien te falou nisto.
- O Damien falou, JD. O Damien falou, Peyton. Mas diz-me la quem é o Moi, meu rico – exclamo eu. – estou absolutamente em pulgas.
- O Moi é o Peyton – explica JD tranquilamente.
- O Moi sou eu – diz Peyton, assentindo. – Moi é eh, francês.
- Tens a certeza que estas manchas não deviam estar aqui? – JD toca no painel, hesitante – quer dizer talvez esteja in, sei lá.
- Espera – interrompo, levantando a mao. – queres dizer que estas manchas estão in?
- Victor, temos uma lista enorme de coisas para verificar, rico. – JD ergue a enorme lista de coisas a verificar. – As manchas vão ser limpas. Alguém vão leva-las daqui para fora. Há um ilusionista à espera lá em baixo.
- Amanha à noite? – rosno – A-ma-nhã à noite, JD?
- Isso pode ser resolvido amanha, não? – JD olha para a Peyton, que faz sinal que sim.
- Por estas bandas, “amanha à noite” significa entre cinco dias e um mês. Céus, será que ninguém nota que estou ansioso?
- Nenhum de nós tem estado propriamente de mãos a abanar, Victor.
- Acho que a situação é bastante simples: aquilo – digo eu, apontando – são manchas. – Precisas de alguém que te explique, JD, ou dá para perceber?
A “jornalista” da Details veio ter connosco. Tarefa: seguir-me durante uma semana. Cabeçalho: COMO SE FAZ UM CLUBE. Miúda: soutien push-up, montes de eyeliner, boné à marinheiro soviético, flores de plástico de bijutaria, um exemplar da W dobrado debaixo de um braço pálido e musculado. A Uma Thurman, se a Uma Thurman tivesse 1,58cm e andasse a dormir. Por trás dela, um tipo de colete de Velcro por cima de uma camisa de râguebi e kispo de cabedal segue-nos a filmar a cena.
- Olá, minha querida. – Dou uma passa num Marlboro que alguém me deu. – Que é que acha das manchas?
A jornalista baixa os óculos-de-sol.
- Não sei bem – diz ela, ponderando a posição que deve assumir.
- As miúdas da Costa Leste são demais – encolho os ombros. – Adoro o estilo de roupa delas.
- Acho que não tenho nada a ver com isso – diz ela.
- E acha que aqueles tontos têm? – exclamo. – Poupe-me.
Do piso superior, Beau inclina-se por cima do corrimão e exclama: - Victor, a Chloe está na linha 10.
A jornalista levanta imediatamente a W e revela um bloco-notas onde escrevinha qualquer coisa, mais animada por momentos, como era de prever.
Grito para cima, olhando fixamente as manchas:
- Diz-lhe que estou ocupado. Estou numa reunião. De emergência. Diz-lhe que estou numa reunião de emergência. Quando as coisas acalmarem, eu ligo-lhe.
- Victor – exclama Beau. – É a sexta vez que ela telefona hoje. É a terceira vez na ultima hora.
- Diz-lhe que vou ter com ela ao Doppelganger às dez – ajoelho com Peyton e JD e passo a mao pelo painel apontando para onde as manchas começam, e volto à carga. – Manchas, meu, vê-me bem estas sacanas. Brilham. Estão a brilhar, JD – digo entre dentes. Credo, estão por todo o lado! – De repente, reparo num grupo inteiramente inédito e uivo, embasbacado – e acho que estão a espalhar-se. Acho que aquele grupo não estava ali! – Engulo em seco, e digo com voz rouca: - Tenho a boca sequíssima por causa disto; alguém podia trazer-me yum chá gelado Arizona de dieta em garrafa? Em lata não.
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